Portugal não é para velhos
Janeiro 04, 2022
C. Nóbrega
E também não é para pobres. Foi para mim chocante ouvir ontem o líder da oposição afirmar que os idosos (pensionistas e reformados) dependem do Estado para sobreviver. Não se referiu aos jubilados, como os políticos. Quando se chega a velho (leia-se 60) as empresas tudo fazem para correr contigo. Começas a sentir a tua vulnerabilidade porque não tens uma Justiça a quem recorrer (porque está ao serviço dos fortes). A saúde torna-se cada vez mais frágil e todos sabemos o que podemos esperar do SNS. Até os seguros de saúde vão sendo mais caros à medida que envelheces. Ontem, tomei ainda mais consciência dessa vulnerabilidade ao saber que um candidato a primeiro-ministro considera que os velhos estão dependentes do ESTADO.
A última vez que tive um sentimento semelhante foi há 45 anos quando Agostinho Neto implementou a Ditadura Democrática do Proletariado. Nessa altura também senti que estava nas mãos do Estado e que a minha terra não era para brancos. Ontem como hoje, a frase do ditador escrita em Cabo Verde; “Povo negro, homens anónimos no espírito da vaidade branca.”
Caminhar, descansar, dormir, fazer amor, ler, ver paisagens bonitas, reflectir, discutir, visitar museus, não ser constantemente ofendido. Viver, numa palavra. É também um direito dos velhos. Uma forma de esquecermos o pouco que vivemos e o que nos espera.
Os vampiros não entendem isso.